Porto Velho29°Calgumas nuvens algumas nuvens

Missão na TI Yanomami salva recém-nascido com quadro grave de desnutrição e remove oito crianças para hospitais em Boa Vista

A criança apresentou quadro grave de pneumonia e desnutrição e sofreu cinco paradas cardíacas.

José Gadelha 22/01/2023

Crianças em estado de desnutrição sendo atendidas pela missão de saúde
Crianças em estado de desnutrição sendo atendidas pela missão de saúde

Uma criança recém-nascida com 18 dias de vida foi salva pela equipe do Ministério da Saúde, esta semana,  durante a missão enviada à Terra Indígena Yanomami, em Roraima. A criança apresentou quadro grave de pneumonia e desnutrição e sofreu cinco paradas cardíacas. Pelo menos oito crianças foram removidas para hospitais da capital, Boa Vista, com quadro grave de desnutrição e doenças infecciosas, e  outras 40 estão em tratamento. 

Dados recentes do Ministério da Saúde apontam que cerca de 570 crianças do povo Yanomami foram mortas por contaminação de mercúrio, desnutrição e fome, devido ao impacto das atividades de garimpo de ouro, cassiterita e diamente ilegal na região.

Em meio à emergência constatada pelas equipes de saúde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou neste sábado, 21, em Roraima. O Ministério da Saúde declarou emergência em Saúde Pública de Importância Nacional nesta sexta-feira, 20, e o governo federal decretou estado de calamidade pública para conter a crise sanitária e humanitária. O presidente viaja para o território com a ministra do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Sônia Guajajara. 

Desde segunda-feira, 16, profissionais fazem um diagnóstico sobre as denúncias de desassistência aos povos Yanomami, na maior terra indígena do Brasil, localizada na fronteira com a Venezuela.  O governo federal atendeu a um pedido de socorro que tem sido feito reiteradamente pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami (Condisi-YY).

Nós estamos pedindo socorro há cinco anos. O que os agentes do Ministério da Saúde encontraram é a realidade que viemos denunciando. Desnutrição, malária, muitas crianças doentes. Nós esperamos que, agora, o governo cuide de nós”, relatou Júnior Hekurari Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami.

Recebemos informações sobre a absurda situação de desnutrição de crianças Yanomami em Roraima. Amanhã viajarei ao Estado para oferecer o suporte do governo federal e, junto com nossos ministros, atuaremos pela garantia da vida de crianças Yanomami”,

manifestou o presidente Lula durante em suas redes sociais..

Mais de 30 mil yanomamis vivem no território que nos últimos anos sofreu uma nova onda de invasão de garimpeiros. A Hutukara Associação Yanomami calcula nos últimos quatro anos cerca de 20 mil garimpeiros invadiram a terra indígena. As lideranças locais afirmam que a precarização dos serviços de saúde e a falta de atendimento adequado aos indígenas está diretamente ligada com a atividade garimpeira ilegal, que tem provocado conflitos e mortes. 

Fotos exclusivas da missão, registradas na comunidade Surucucu esta semana, mostram crianças e idosos extremamente magros, com sinal de possível quadro de desnutrição aguda.

Crianças em estado de desnutrição sendo atendidas pela missão de saúde
Crianças em estado de desnutrição sendo atendidas pela missão de saúde

Em dezembro de 2022, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou investigação para apurar o desvio e superfaturamento de medicamentos, especialmente de verminoses e malária, que deveriam chegar ao povo Yanomami.

No ano de 2022, foram registrados 11.530 casos confirmados de malária no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e mais de 300 crianças indígenas yanomami vítimas de desnutrição e malária tiveram que ser removidas de suas comunidades de origem para o Hospital da Criança em Boa Vista para tratamento de média ou alta complexidade.

A invasão da Terra Yanomami teve o início durante a ditadura militar com a construção da rodovia Perimetral Norte BR-210 na década de 1960, quando a cobiça pelo ouro levou ao povo Yanomami um rastro de epidemias, violências e massacres que ainda hoje repercutem em suas aldeias.

Por Fábio Bispo/InfoAmazônia