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Fiocruz discute ações estratégicas para fortalecimento de pesquisas em Rondônia

A Fiocruz Rondônia está presente em diferentes formas na saúde da população. No estudo que realiza com foco no entendimento de doenças; na busca por novos compostos - a partir da biodiversidade - que sejam eficazes no tratamento de doenças negligenciadas ou até mesmo identificando propostas terapêuticas e diagnósticas inovadoras.

José Gadelha 16/02/2023

Pela primeira vez em Rondônia, Mário Moreira (ao centro) enfatizou o potencial da Fiocruz RO para inovações em pesquisa. Foto: José Gadelha

O presidente em exercício da Fiocruz, Mário Moreira, se reuniu com representantes da instituição em Rondônia (10/02) e discutiu estratégias para o fortalecimento institucional no estado. Ele esteve acompanhado do coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência, Rivaldo Venâncio, e da coordenadora de Estratégias de Integração Regional e Nacional da Fiocruz, Zélia Profeta.

Mário Moreira é doutor em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com estágio doutoral na Universidade de Coimbra, em Portugal, mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) e em Gestão de Tecnologias e Inovação pela Universidade de Sussex (Reino Unido). No cargo de vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz, desde 2017, ele assumiu a presidência da instituição no começo deste ano, tendo em vista a nomeação de Nísia Trindade Lima para comandar o Ministério da Saúde.

Acompanhando a evolução das pesquisas em Saúde Pública em Porto Velho, desde a época em que o professor Luiz Hildebrando Pereira da Silva era diretor do Instituto de Pesquisas em Patologias Tropicais (Ipepatro), Mário Moreira destaca o potencial regional para o desenvolvimento de estudos em doenças negligenciadas e o enorme desafio para o cumprimento de uma agenda estratégica que possa alavancar as ações que já vem sendo executadas pelo Escritório Técnico da Fiocruz em Rondônia, em termos de pesquisa, assistência à população e, sobretudo, na formação de recursos humanos no campo da saúde.

Nada se compara a uma visita pessoal, ver in loco os desafios que estão estabelecidos diariamente, sobretudo, de infraestrutura, mas não somente isso, eu saio daqui imbuído desse compromisso de buscar soluções e mecanismos para que possamos colocar em prática um projeto de fortalecimento e recuperação do Escritório Técnico da Fiocruz Rondônia”,

declarou o presidente em exercício.

No encontro com servidores, pesquisadores, alunos de pós-graduação e colaboradores, Mário Moreira destacou a capacidade da Fiocruz Rondônia para a formação de novos cientistas, massa crítica local e profissionais que passam a atuar no campo da Saúde em diferentes segmentos e setores da sociedade.

Nesse sentido, Mário acrescenta que se faz necessário pensar em uma política de recursos humanos, de investimentos e desenvolvimento institucional específica para a região Norte, de modo que sejam contempladas as especificidades locais, trazendo as duas instituições com atuação na região Norte, a Fiocruz Rondônia e o Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) para o centro de uma preocupação com políticas institucionais que considerem a realidade local e as necessidades da região, “assim como a Amazônia é importante para o Brasil e o mundo, tem que ser prioridade para a Fiocruz”, fez questão de enfatizar.

O coordenador da Fiocruz Rondônia, Jansen Fernandes de Medeiros, entende que a visita da equipe ocorre em um momento muito especial em que são rediscutidas estratégias de fortalecimento entre as instituições de pesquisa que já atuam na Amazônia,

região carente quando o assunto são investimentos em infraestrutura e de fomento à pesquisa, e com muitas lacunas a serem preenchidas em termos de conhecimentos científicos que reverberem em ações e políticas públicas que possam beneficiar a população local”.

pontuou Jansen Medeiros.

A Fiocruz Rondônia e o desenvolvimento regional

Ao longo dos últimos anos, a Fiocruz Rondônia vem colaborando de forma expressiva para o desenvolvimento do estado, por meio de diversos estudos, auxiliando a comunidade científica no direcionamento de novas pesquisas e, consequentemente, oferecendo aos gestores públicos locais informações seguras para a prevenção e o controle de doenças infecciosas e parasitárias.

O monitoramento e vigilância genômica do vírus SARS-CoV-2 em parceria com a Rede Genômica da Fiocruz, Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e o Laboratório Central de Saúde Pública de Rondônia (Lacen), destacam-se como forte evidência do comprometimento institucional da Fiocruz com as questões de saúde humana, no contexto de doenças emergentes. A avaliação e geração de dados sobre o comportamento de agentes patogênicos endêmicos na região, por meio da decodificação do genoma viral, em parceria com outras instituições, permitem acompanhar as linhagens e mutações genéticas nos vírus circulantes, o que permite contribuir para estratégias de saúde pública.

Avaliação e geração de dados sobre o comportamento de agentes patogênicos permitem acompanhar linhagens e mutações genéticas nos vírus circulantes. Foto: Rodrigo Mexas

A Fiocruz Rondônia também está presente na saúde da população colaborando com o diagnóstico de infecções associadas a fungos, além de outros serviços oferecidos aos pacientes da rede pública de saúde, a exemplo do Ambulatório de Hepatites Virais, que possui até o momento 7.964 pacientes crônicos cadastrados. Associado ao Ambulatório, o Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia realiza o diagnóstico de carga viral da Hepatite Delta, exame que ainda não é disponibilizado na rotina do Sistema Único de Saúde (SUS) e que é importante para o acompanhamento e monitoramento da doença.

Mulheres grávidas acompanhadas pela rede pública são atendidas pelo Laboratório de Microbiologia, que desenvolve estudo sobre a prevalência e fatores de risco associados à colonização pela bactéria Streptococcus agalactiae (EGB). Essa bactéria é normalmente encontrada no aparelho digestivo de seres humanos e diferentes animais, sendo que em mulheres é muito comum no canal vaginal, sem que isso cause alguma doença. Contudo, gestantes colonizadas pela bactéria podem transmitir este micro-organismo para o recém-nascido, ocasionando riscos à saúde do bebê.

Colaborando com o Hospital Cemetron, referência no atendimento em leishmaniose tegumentar no estado, o Laboratório de Epidemiologia Genética faz a coleta das amostras e realiza exames para a detecção de Leishmania, parasita causador da doença. Dentre os exames, estão o parasitológico, que consiste na visualização do parasita em lâmina, o isolamento do parasita em cultura e os exames moleculares para detecção do DNA do parasita nas amostras coletadas. A equipe do laboratório também realiza a identificação da espécie de Leishmania que, junto aos dados clínicos e epidemiológicos, permite direcionar o melhor tratamento ao paciente.

População pode enviar fotos e vídeos de insetos “suspeitos”

Outro trabalho de referência, que tem se constituído numa importante ferramenta de conscientização e de combate à desinformação, é o projeto WhatsBarb desenvolvido pelo Laboratório de Entomologia da Fiocruz Rondônia. Consiste na Vigilância Cidadã de triatomíneos (popularmente conhecidos como barbeiros), os vetores da doença de Chagas.

Pesquisadores e alunos orientam a população que tem participado com o envio de fotos e vídeos de insetos considerados “suspeitos”. No laboratório, recebem amostras e fazem a identificação taxonômica. Casos mais específicos são encaminhados ao Lacen. Fotos de insetos parecidos com barbeiros podem ser enviadas no contato do WhatsBarb, (69) 99208-0913.

A Plataforma de Produção e Infecção de Vetores de Malária (PIVEM) vinculada ao Laboratório de Entomologia realiza estudos com foco na prevenção, detecção e combate à malária, doença infecciosa febril aguda, transmitida pela picada da fêmea de mosquito do gênero Anopheles. Dentre os estudos, a Plataforma trabalha na investigação de compostos químicos que apresentem alto poder de inibição e bloqueio na transmissão da malária, além de estudos com compostos que possam ser incorporados aos mosquiteiros impregnados com inseticida.

Outro campo de estudos também explorado é o da bioprospecção de moléculas oriundas do bioma amazônico. Os pesquisadores querem descobrir moléculas que tenham atividade biológica contra doenças negligenciadas. As pesquisas são realizadas no Centro de Estudos de Biomoléculas Aplicadas à Saúde (CEBio). Entre as atuais fontes dos bioativos em pesquisa, estão várias espécies de plantas e secreções epidérmicas de anuros amazônicos. A equipe busca encontrar metabólitos e peptídeos promissores na cura ou tratamento de doenças como a malária e a leishmaniose.

Pesquisadores querem descobrir moléculas que tenham atividade biológica contra doenças negligenciadas. Foto: Joseph Evaristo

No Laboratório de Neuro e Imunofarmacologia, pesquisadores estão empenhados na geração de conhecimento dos aspectos fisiopatológicos dos transtornos neurocognitivos, doenças metabólicas e infecciosas. Avaliar o potencial farmacológico de substâncias de origem natural, semi-sintéticas e sintéticas para o tratamento destas doenças é outra preocupação dos pesquisadores.

Pesquisadores da Fiocruz Rondônia também se dedicam ao desenvolvimento de insumos biotecnológicos, especialmente baseados em anticorpos de camelídeos (lhamas), denominados VHH ou nanocorpos, a fim de identificar propostas terapêuticas e diagnósticas inovadoras. Esses estudos são realizados no Laboratório de Engenharia de Anticorpos e têm apresentado resultados promissores na produção de nanocorpos ativos contra alvos virais e toxinas relevantes no envenenamento por serpentes.

Estudos realizados no Laboratório de Engenharia de Anticorpos têm se mostrado promissores. Foto: Rodrigo Mexas

Com foco na compreensão de fatores relacionados aos acidentes ofídicos, o Laboratório de Imunologia Celular Aplicada à Saúde desenvolve estudos em diferentes linhas, buscando elucidar desde questões ligadas à ação do veneno no local afetado a respostas sobre os mecanismos de defesa do organismo diante de processos inflamatórios provocados por envenenamento por serpentes. Atualmente, também são desenvolvidos trabalhos no sentido de implementar alternativas coadjuvantes à soroterapia convencional por meio de fotobiomodulação (LED) e nanocorpos.

No Laboratório de Análise e Visualização de Dados, pesquisadores buscam empregar novas tecnologias, como por exemplo, aprendizagem de máquina para extrair informações de bases das mais diferentes fontes de dados dos sistemas de informação brasileiro. Nesse caso, é possível desenvolver ferramentas simples que auxiliem gestores e a população em geral a entender, entre outras coisas, os principais fatores de risco de uma determinada doença.

Buscar novos fármacos a partir da biodiversidade; criar kits práticos que auxiliem na descoberta de novos compostos contra doenças endêmicas; produzir e realizar análises de proteínas recombinantes; medir a interação entre candidatos a fármacos e seus alvos, além de desenvolver aplicações computacionais para análises Biofísicas e Bioquímicas fazem parte do cotidiano dos pesquisadores do Laboratório de Bioinformática e Química Medicinal.

No Laboratório de Biotecnologia de Proteínas e Compostos Bioativos Aplicados à Saúde, pesquisadores e alunos buscam realizar a bioprospecção e entender o mecanismo de ação de componentes oriundos da natureza (de origem animal ou vegetal procedentes dos biomas brasileiros) e suas potenciais aplicações biotecnológicas aplicadas à saúde. Também é oferecida colaboração técnico-científica a instituições que tenham interesse nessa bioprospecção sustentável de compostos bioativos a partir da biodiversidade, assim como, cursos educativos de capacitação/aprimoramento relacionados à Biotecnologia, Toxinologia, metodologia científica e projetos de pesquisa.

Recursos humanos

Atualmente, a Fiocruz Rondônia possui 85 alunos de pós-graduação matriculados em programas de mestrado e doutorado vinculados ao Programa de Pós-graduação em Biologia Experimental (PGBIOEXP), Rede BIONORTE e em cooperação com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Ao longo dos anos, foram formados cerca de 200 mestres e 80 doutores, parte significativa desses profissionais atua na região, seja em universidades, instituições de pesquisa e ensino, ou órgãos de governo.

Assessoria Fiocruz Rondônia